quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Entrevista - Duca conta todos os detalhes do "Depois da Guerra"





Prestes a lançar o 10º álbum da carreira, “Depois da Guerra”, o baixista do Oficina G3, Duca Tambasco, entrega os principais detalhes da obra, que marca uma série de mudanças importantes para o grupo.


Em termos líricos, sobre o que o CD trata? O nome, “Depois da Guerra”, é forte. Como foi o processo de definição das letras?


Duca Tambasco - A gente começou a compor esse CD sem pensar num assunto especifico. Porém, tudo foi caminhando para um lado onde nós acabávamos falando sobre essa questão de guerras, em geral, que vivemos. Não é 100% sobre a guerra entre o próprio povo de Deus no que diz respeito a divergências de opinião, que às vezes mais separa do que aproxima os irmãos em cristo.
Mas, principalmente, de guerras internas nossas, não só entre irmãos, mas da carne contra o espírito, da guerra do dia a dia, de você acordar e encarar a sua rotina e enfrentar isso com a ajuda de Deus. Que às vezes o dia-a-dia, ao invés de parecer uma coisa rotineira, te joga pra baixo, te derruba.

É um álbum conceitual?


Não posso dizer que é conceitual, porque não foi algo pensado, mas acredito Deus direcionou as coisas para que tocássemos nesses assuntos que são cruciais para o bem estar entre os irmãos e nosso crescimento como humanos, pessoas, cristãos.
A faixa título fala sobre uma guerra que divide o povo de Deus. Tem uma balada que fala sobre a guerra interna, outra faixa que fala sobre esperança., sobre coisas boas, aproveitar a vida. Tem N assuntos, mas o X da questão é o ser humano. Não ficamos atacando políticos, nem doutrinas, mas damos um foco no ser humano em si, falando sobre todas as coisas. É um grande ponto do CD ter tocado na alma do homem. Pra que, você tocando na alma do homem, quebrando o coração do homem, o resto é conseqüência, o que tentamos falar nas diversas letras desse CD.

Na sonoridade, o que mudou? Como os novos produtores interferiram neste processo?


Gravamos
com os caras do Korzus, Marcelo Pompeu e Heros Trench. A gente já queria uma sonoridade mais pesada, porque tínhamos feito o Elektracustika como um CD de 10 anos depois do primeiro Acústico, então queríamos algo diferente e fizemos ele. Mas ok, passou. Agora era hora de dar continuidade ao que a gente quer que é o rock n roll, um som mais metal, mais rock. Tudo coincidiu pra acontecer da forma que a gente queria. E aí calhou de ter encontrado a produção do Heros e do Pompeu, que conheci através do CD do Threat. Fiquei maravilhado com a sonoridade, o peso, a produção, essa coisa de parecer até uma banda gringa, pela sonoridade, a qualidade. Fomos encontrar com os caras, trocamos idéia, mostramos o que queríamos e começamos a trabalhar.
Se a gente tinha uma linguagem em 180 graus eles expandiram em 360, pra todos os lados que se possa imaginar: em rock, peso, linguagem, ritmos. E foi muito legal trabalhar com eles. O profissionalismo dos caras tem sido muito bacana.

A entrada do Mauro Henrique nos vocais foi algo que ninguém esperava. Qual é a história da entrada dele na banda?

Na verdade, foi uma coisa louca (risos). Falando sério, nós (eu, Juninho e o Jean) temos muito zelo pela banda, prezamos muito pela banda que Deus confiou a gente. Sempre tivemos muito medo de colocar um vocal e o cara usar a banda como trampolim, usar o veículo e sair fora, mas as coisas foram acontecendo de forma interessante. Não estávamos procurando um vocalista nem pensando nisso, o CD tava sendo todo composto pro Juninho cantar. Os arranjos eram pra linha vocal dele.
De repetente pintou o Mauro que foi uma coisa interessante porque o Juninho comentou que o Izabê, ex professor de vocal dele falou que tinha um cara, que veio fazer um teste e reacendeu essa chama, essa idéia. Sabe? Nunca iríamos saber se não tentássemos. Ligamos pra ele no mesmo dia, ele veio pra São Paulo, e começamos a caminhar com ele, levá-lo para alguns shows, passar a ver como ele se saia no palco fazendo uma participação especial.
Mas a finalidade principal era conviver com ele, andar com ele, e isso foi tranqüilizando nosso coração. Andar com ele, ver que, é claro que a gente nunca vai ter certeza até andar 10, 20 anos com o Mauro e ver que o cara é um cara que a gente não abre, só vou saber isso com o tempo mas nos poucos meses já deu pra ter uma certa confiança. Chegou uma hora em que sentamos, eu, Juninho, Jean, pensamos: daqui pra frente vamos assumir o risco. Oramos muito, oramos com o Mauro, com o pessoal da nossa equipe que são pessoas compromissadas com a gente, com Deus, que estão no nosso barco e tem um zelo pelo ministério. E chegou uma hora que nosso coração ficou tranqüilo. E daqui pra frente ou assumimos isso ou ficamos na dúvida.
Não que a voz do Juninho não tivesse boa. Mas chega uma altura de campeonato que você tem que assumir certos riscos. E ele chegou pra somar, porque ele é um super músico, toca baixo e guitarra pra caramba. Não é simplesmente um cara que canta o que pedem e vai embora. Não, ele tem conhecimento, arranja, soma, discute, propõe. Discutimos caminhos pra música, o que facilita muito, porque a comunicação é muito mais fácil. Não é só um cantor, é um músico. Ele sabe falar pra você uma idéia sobre baixo, sabe explicar isso, agregando mesmo. Se o CD já tava ficando bom pelas letras, músicas e produção, ficou ainda melhor com a entrada dele. Cada vez que a gente ouve é uma emoção.

O álbum conta também com várias pessoas na composição. Como isto aconteceu?


A gente sempre opta. È difícil abrir o leque pra mais pessoas ajudarem na composição, porque, as vezes, quanto mais gente, isso pode atrapalhar e tumultuar em vez de ajudar.
Tem uma música do Cris, de Vitória, ele e a banda dele, que tem uma forma de enxergar a música, que é diferente da nossa, e quando eles expuseram a música, colocamos a nossa cara, nossa interpretação. Pra uma música que não era muito o nosso estilo. Sendo algo a mais pra todo mundo ouvir.
Vamos falar a real: em 20 anos de banda, os riscos da fonte esgotar é muito maior do que um grupo de 2 anos. Então é bom que o leque amplie pra outras pessoas, trazendo novas “roupagens” nas músicas com outras cabeças. Um amigo nosso, Gabriel Louback, trouxe uma faixa com uma letra muito bonita, mas o estilo não tinha nada a ver com a gente. Se você ouvir a música você não vai acreditar que tinha uma linguagem MPB, e nós transformamos numa balada rock. E a gente foi fuçando nela, e ficou muito legal…que só ouvindo pra saber. Depois de pronta deu uma sensação de missão cumprida muito legal. O estilo dele é diferente, do Cris de Vitória, do Celsinho (Celso Machado, o guitarrista), tudo isso é diferente, o que acaba dando uma diversificada interessante. E a música do Gabriel fala sobre uma guerra do dia a dia de você com você mesmo, tendo sempre que pedir forças a Deus pra continuar a nossa vida, e ele nem sabia da questão do CD que chamava “Depois da Guerra”, e caiu perfeitamente para o que a gente tava querendo. Tenho certeza que isso é o dedo de Deus, montando o quebra-cabeça.


E a participação mais específica do Celso e a regravação da música do Mauro?

O Celsinho tem uma visão de composição de letra e musical muito diferente, e ele foi dando a vestimenta que ele queria pra música, somando com as nossas idéias, e ficou muito legal. Todo mundo que é músico tem usa linguagem própria, seu próprio jeito de tocar. Eu e Celsinho temos jeitos diferentes e isso acaba dando uma diversidade interessante.
A do Mauro, “I Tried To Change”, nela nós não mexemos muito, porque ela é linda, e seria até um pecado mexer demais no jeito de tocar. Demos uma leve diferença, mexemos pouco em estrutura e a linguagem, com o toque do Oficina.
Gostaria que você falasse um pouco mais sobre a gravação do cover de “People Get Ready”, do Curtis Mayfield, porque é algo que vocês nunca fizeram antes, regravações de outros artistas, além de ser uma faixa clássica.
Ela tem uma história muito legal. Quando fomos pra Itália, pra Suíça e Inglaterra (em 2001)…nós conhecemos um cara que chavama Wally e a gente ficou com ele, era bem prestativo. Era canadense mas morava lá, e ele tava se dispondo a nos ajudar e era músico também. Conversamos sobre N coisas, passamos o dia com ele, enfim. E ele ia tocar, queria tocar uma música. E ele disse que queria tocar essa, “People Get Ready”, que é uma música simples mas com uma letra muito bonita, e essa música aproximou a gente. A comunicação entre nós estava um pouco complicada, pela dificuldade no inglês e a própria diferença de cultura. E quando tocamos a música, ela aproximou muito a gente. É incrível esse poder que a música tem, essa universalidade, e isso marcou todo mundo, foi uma experiência muito bonita.
E anos depois a gente pensou, “vamos pegar aquela música”…e aí fomos criando a coragem. Ela é música cristã, mas ficou eternizada na voz do Rod Stewart, que não é cristão. Mas assumimos também esse risco, que fala da esperança do povo cristão de ir pra terra prometida “que as pessoas estejam prontas pro trem que vai pro Jordão”, e você só precisa ter fé e ir pra terra prometida. É uma letra completamente cristã. Ela é animal e resume a nossa fé.
Essa experiência vai valer, e a gente acreditou e tocamos. Independente de ser pioneirismo, a música te aproxima, superando a dificuldade da língua, que as vezes acaba quando você tem fé em Jesus e a música como veículo pra pensar a nossa fé em Jesus, e levamos isso adiante.


Falando agora sobre o baixo neste CD, o que você buscou, o que ele traz em termos de som?


Nesse CD eu quis não fugir muito…eu tento sempre inovar, com novas linhas, mas não posso ser ingrato com o meu jeito de tocar que muita gente vem me falar que se espelha, gosta, e tudo. Porém sempre tenho a intenção de querer fazer melhor, linhas mais interessantes, seja nas frases rápidas ou não. As linhas são bem pesadas, em regiões bem graves, então o cara que ouvir vai sentir as guitarras parecendo um urso te abraçando, porém, parte desse urso é o peso do contrabaixo, nas regiões que procurei tocar de uma forma que envolvesse a guitarra e desse mais peso pra ela.
Na faixa “Muros”, por exemplo, tem uma linguagem meio metafórica, mas ela fala sobre muros de pedra que separam as pessoas, de muros visíveis e invisíveis que separam as pessoas…fiz umas linhas interessantes. To ouvindo umas coisas novas que foram sugestões do Mauro..Mudvayne, e eu nunca tinha ouvido. Ele me mostrou, e o baixista é um monstro, muito inteligente. Consegui agregar algumas idéias ao meu jeito de tocar.
Na faixa título eu fiz uma linha bem encaminhada na introdução, que acho que vale a pena ressaltar. Meu irmão (Déio Tambasco) também compôs, tem a participação dele em “Meus Próprios Meios”, que é uma das mais pesadas do CD, tendo uma cavalgada de guitarra nervosa. Usei até palheta, tem um two-hands bem legal e um solo também. Tá bem trabalhado, talvez o mais da história da banda. Não consigo fazer coisas simples, você se acostuma a fazer coisas complicadas, tá no sangue…você acaba complicando, deixando mais complexa. E esse CD tem bastante coisa.


Como foi trabalhar com o pessoal do estúdio, Na Cena, que representou uma mudança de ambiente para vocês?

Eles nos ajudaram muito. O Hebert e Marcos, que são os donos, o Zeca, técnico e o Rafa e o Vitor que são auxiliares técnicos. Eles estiveram envolvidos no projeto de uma forma que parece que a banda é deles, e isso é uma coisa que eu fico muito admirado e grato. Porque tem várias coisas q eles não precisavam fazer, mas os caras se desdobraram. Em pouco tempo de convívio criamos uma amizade muito grande, que agrega muito.


Com todas estas mudanças…qual a expectativa para a turnê? Como a banda está encarando ela?


Sinceramente, tenho a sensação de que será a melhor turnê do Oficina G3, na história. E não é a toa. Muita gente não entendeu a proposta do Elektracustika, que era uma fase, um momento, como se de 10 em 10 anos fossemos fazer algo diferente. E muita gente achou que tivéssemos mudado o estilo, e muita gente ficou até decepcionada.
Acho que esse é o momento, de juntar todas essas expectativas, e creio que será um boom grande. De que será o melhor momento da banda. É um show muito intenso, pesado, que vai deixar todo mundo pular, bangear…e com muito evangelismo também, sem dúvida. O rock é veículo pra falar de Deus, sempre, seja mais pesado ou mais leve, isso tá muito presente no DNA da banda.
Tenho a sensação de vai ser um divisor de águas na nossa vida. Sem contar o Mauro, eu acredito também que isso vai impulsionar muito. Estamos arriscando e acreditando bastante nisso. Estamos querendo, trabalhando e acreditando sempre no melhor, e as expectativas e sensações pra esse CD são as mais altas possíveis. Muita gente critica, mas não mexe uma palha pra falar de Deus pra ninguém. Estamos confiantes que tudo vai valer a pena.